ABHH participa de encontro de residentes de Hematologia em São Paulo

Terceira edição do Getting Ready reforça importância da atualização técnico-científico constante dos profissionais da especialidade

Entre os dias 11 e 13 de maio, a cidade de São Paulo recebeu a III Programa de Residência de Hematologia e Oncologia Clínica – Getting Ready, com foco na atualização sobre novos estudos, discussão de casos clínicos e informações sobre as patologias hematológicas que mais acometem a população brasileira. Entre os palestrantes, foram selecionados profissionais de destaque na especialidade como professores universitários, pesquisadores e diretores de importantes instituições de saúde. A moderação do evento foi realizada por Belinda Simões, membro dos Comitês de Transplante de Medula Óssea, Leucemias Agudas e Leucemia Linfóide Crônica da ABHH, apoiadora do evento, junto à Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

Em todas as atividades, os residentes participaram com perguntas sobre os casos clínicos apresentados pelos palestrantes e esclareceram questões do dia a dia que surgiram a partir do compartilhamento de estudos científicos de acordo com cada aula, terminadas com discussão entre especialistas e plateia.

No dia 12 de maio, a parte da manhã foi iniciada com as doenças linfoproliferativas. A primeira aula ministrada aos residentes foi de José Vassallo, médico hematopatologista e professor titular da UNICAMP, com o tema Citologia – Diagnóstico integrado morfologia, imunofenotipagem e biologia molecular, com discussão de casos clínicos.   A lista de marcadores e pesquisa de várias translocações de material processado serve para classificar os linfomas, mas também para leucemia.

“O diagnóstico de mielodisplasia é feito pelo hematologista. O patologista tem que saber tudo, mas imagina saber de todas as doenças hematológicas, não em detalhes geral, mas translocações, diagnóstico e parte molecular. Todas as neoplasias têm um adendo molecular como rim, mamas e não dá para o patologista encaminhar o diagnóstico, mas na hora de chegar no final, temos que ter o hematopatologista. Estamos batalhando para que se tenha uma residência (R4) de hematopatologia que então, poderia ser aberto a hematologista, que abordaria a parte molecular e a citologia de fluxo”, explica Vassallo.

Fernanda Maria dos Santos, do Laboratório de Hodgkin do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), proferiu e discutiu casos com os participantes sobre como monitorar as respostas do Linfoma de Hodgkin. “Hoje, mais de 90% dos pacientes diagnosticados estão vivos em mais de sete anos de tratamento – e além de estarem vivos, estão sem doenças e isso é incrível na oncologia. Por isso que há um grande desafio de dosar o tratamento intensificado para aqueles pacientes de alto risco para otimizar a sobrevida livre de progressão e sobrevida global e as complicações serão a longo prazo”, explica Fernanda, que também abordou a importância do PET-CT devido ao auxílio de estratificar melhor o risco desses pacientes.

Muitos trabalhos estão em lançamento e em 2014 houve nova classificação de estadiamento e diagnóstico com PET. Quando tem a captação do PET residual é preciso dar a resposta, nem sempre a gente vai ter PET disponível ou de fácil acesso, mas a tomografia é um instrumento de avaliação de resposta.  Além disso, pacientes que têm resposta precoce com PET negativo têm uma sobrevida maior, livre de progressão.

Um dos assuntos mais abordados na hematologia atualmente, as células T, foram tema de Rony Schaffel, preceptor em hematologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.  “Hoje nosso grande desafio é descobrir qual o remédio certo para a doença certa. Saímos do momento do tamanho da célula e a decisão entre CHOP e não CHOP. Hoje vemos como é importante integrar todas as informações. Linfoma T é um pequeno grupo de 10% de todos os linfomas. Cada linfoma tem sua característica”, apresenta Schaffel.

A chave para o manejo dos diferentes tipos de linfoma T é a combinação de aspectos clínicos, laboratoriais, histopatológicos, e imunofenótipos para aumentar a precisão do diagnóstico. O melhor momento do manejo está justamente no tratamento inicial. Naqueles pacientes nos quais a recaída é inevitável, indica-se de um lado poupar medicamentos tóxicos e de outro prepará-los para o transplante nos subtipos mais agressivos de linfoma T.

O responsável pelo Laboratório de Linfomas da Santa Casa de São Paulo, Sérgio Brasil, fez sua abordagem sobre Linfoma células B agressivo – tratamento de segunda linha. A recidiva precoce acontece um ano após o diagnóstico, seis meses após o início do tratamento, instabilidade genética e traduz a presença de subclones.

O que fazer quando o R-CHOP não funciona? A quimioterapia de salvamento para dar um recidiva completa e poder proporcionar chance de cura ao indivíduo, mas a quimioterapia atual não oferece altas taxas de salvamento. Além disso, Brasil alerta que é importante a aprender a ver o PET porque há laudos discordantes das imagens e há uma nova revolução no tratamento dos linfomas, tanto na fase diagnóstico tanto na fase pós-recidiva.

Já linfomas indolentes ficou à cargo de Danielle Leão, da Universidade Federal de Goiás, que a partir da exposição de casos clínicos reportou aos residentes que a doença tem poucos sintomas e desenvolvimento lento, é incurável. O linfoma folicular, doença de idosos, acima dos depois dos 60, atinge mais mulheres, mas já existem casos isolados em jovens, tem um aumento de incidência mundial, não pelo diagnóstico precoce, mas a mortalidade tem caído. Sobre o linfoma folicular, o tratamento mais indicado é a radioterapia, pois pela fisiopatologia tem células em locais diferentes que podem sofrer alterações. Um dado importante, menos de 40% das pessoas fazem PET.

O período da tarde foi iniciado com a aula Leucemia Linfoide Crônica – quem e quando tratar?, de Leonardo Gomes, médico do Hospital Central do Exército, com foco na melhor escolha de tratamento para o paciente e abordagem em como classificar o fit e o unfit para direcionar o melhor tratamento.  “É uma doença que não precisa ter pressa para tratar, mas tem que ter a certeza do tratamento. Estamos em uma fase interessante da LLC, assim como o mieloma.  O importante é saber indicar a droga correta devido o custo dos medicamentos. Tem que olhar para a doença e ver para onde ela vai”.

A aula sobre Pacientes com mieloma múltiplo elegíveis ao transplante de medula ficou à cargo de Edvan Crusoé da Universidade Federal da Bahia. “Hoje, os médicos estão esquecendo de solicitar o exame mais simples para diagnóstico do mieloma múltiplo, a eletroforese de proteína, e segundo estudo, metade dos médicos das UBS não sabem o que é esse exame. A gente sempre pede aos colegas ortopedistas que solicitem a eletroforese em casos de suspeita da doença, a partir de sintomas suspeitos”. Além disso, os hematologistas nunca devem perder o costume de olhar o sangue periférico. O mieloma é uma doença que age estranhamente e é agressiva e a partir do TMO, a manutenção deve ser feita, pois quando o mieloma volta a se manifestar, volta muito pior e mata o paciente.

Para complemento dessa aula, Roberto Magalhães, também da UFRJ, explicou abordagens sobre pacientes de mieloma não-elegíveis ao TMO. “Como deve ser o laudo de eletroforese de proteínas? Precisa do valor total da proteína para fazer qualquer cálculo. Descrição em termos percentuais em gramas de ml, valores de referência para analisar e componente monoclonal gama, caso tenha aparelho para essa mensuração”. Além de ter uma eletroforese bem feita, mesmo que tenha acesso ao PET.

Durante o evento, diversos casos clínicos foram apresentados para ilustrar como é feito o diagnóstico e tratamento das doenças abordagens, com diferentes perfis de pacientes. Nesse formato, Monika Conchon, hematologista do Hospital Santa Marcelina de São Paulo, apresentou manejo dos casos com resistência ou intolerância ao imatinibe em LMC. “O importante é saber que a LLA em adulto, principalmente quando for mais velho o paciente, o cromossomo philadelphia é maior”, explica.

Além de moderar todas as apresentações, Belinda também ministrou o futuro da imunoterapia com foco na LLA, doença da infância, na qual não há nenhuma mudança no termo de sobrevida nos pacientes, infelizmente, ainda não existe nenhum paciente padrão e sem protocolo padrão.

Os pediatras conseguiram mudar toda a história, que para melhorar os resultados, a partir de estratégia, aumentou-se a dose de quimioterapia.  Todo paciente adulto deve fazer o BCR e a escolha do regime ser feita pela idade e comorbidades, além de inibidores de TKI, anticorpo monoclonal e bi-específicos e CAR T cells. A coqueluche do momento é o Car T Cell, com a ideia de que linfócito T seja capaz de eliminar sozinha a leucemia, mas com a quimio.

O segundo dia do evento foi encerrado com Katia Pagnano, do Hemocentro da UNICAMP, que a partir da explicação sobre o papel do diagnóstico personalizado na LMA, explicou sobre avaliação citogenética e molecular, nova classificação de alteração molecular de risco favorável e modelo baseado nas mutações moleculares.