Pesquisa realizada com 110 pacientes mostra a eficácia do transplante
O transplante com células-tronco da medula óssea do próprio paciente para combater a esclerose múltipla é mais eficaz do que a medicação disponível no mercado. Essa é a conclusão da pesquisa feita por pesquisadores do Brasil, Suécia, Inglaterra e Estados Unidos com 110 pacientes. Deste total, 55 foram transplantados e outros 55 receberam tratamento convencional.
“Dos transplantados, apenas três (6%) reativaram a doença após o transplante. No outro grupo, tratado com a medicação disponível no país, em 33 (60%)”, explica a professora Maria Carolina de Oliveira, da Divisão de Imunologia Clínica do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. O estudo foi apresentado, em março, no encontro anual da European Society for Bloodand Marrow Transplantation.
No entanto, o transplante deve ser aplicado apenas aos pacientes que estejam na fase remissiva de surto da doença. “É a fase em que o paciente tem surtos de perda neurológica súbita. Passa a ter dificuldade para andar e mexer os membros. Esses surtos acumulam incapacidades neurológicas e o transplante tem que ser realizado antes que chegue à fase progressiva”, garante.
Experiência – O resultado do trabalho internacional reforça o que é realizado há 16 anos no Hospital das Clínicas da FMRP-USP. O transplante começou, em 2002, com o professor Júlio Voltarelli. Mas esses procedimentos não são pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e sim com verbas de projetos de pesquisas. “Pretendemos, com esses resultados, convencer as autoridades a incluir este tipo de transplante na lista do SUS”, afirma a doutora Maria Carolina.
Entre os 90 transplantes realizados no HCFMRP-USP “2/3 melhoraram. Sendo que deste total, metade manteve a doença controlada e na outra metade houve progressão ao longo do tempo. Isso porque a maioria desses pacientes foi transplantada na fase tardia, já degenerativa da doença. O transplante funciona melhor nas fases mais precoces, inflamatórias da doença”, explica.
Doença – Esclerose Múltipla é uma doença neurológica, crônica e autoimune. As células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares que provocam o surgimento de fadiga, alterações fonoaudiológicas, perda do equilíbrio e coordenação, rigidez dos membros e transtornos visuais, cognitivos e emocionais. O Hospital das Clínicas atende cerca de 600 pacientes com esclerose múltipla.
“Quero minha vida”
“Quero meu marido de volta. Quero poder ir com ele ao supermercado, às festas de família. Quero ele para as nossas filhas”. Aline Carvalho não resiste ao choro, quando fala sobre o futuro que deseja com o marido Alexandre Carvalho, que há seis meses passou por transplante autólogo com células-tronco da medula óssea para combater a esclerose múltipla.
“Cheguei aqui (no HC) numa cadeira de rodas. Hoje consigo levantar, andar sozinho e ter autonomia, que antes do transplante não tinha”, garante Alexandre. Ao acordar em um dia de janeiro de 2015, “senti uma queimação na coxa e no pé. Depois de alguns dias a perna começou a travar”. A confirmação de esclerose múltipla chegou seis meses depois e o transplante aconteceu no fim de 2017.
“Chegou um momento, em que só ficava deitado ou sentado. Vivia na internet procurando alguma solução, quando li uma reportagem sobre transplante de células-tronco no Hospital das Clínicas. Liguei e fui atendido pela própria doutora Daniela Moraes que estimulou a vir. Hoje, sou grato à equipe que me acolheu e me deu esperança de ter minha vida de volta junto com minha família”, afirma.